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JOSÉ ARARIPE CAVALCANTE JÚNIOR
( BRASIL - BAHIA )
José Araripe Cavalcante Júnior, 19 anos, nascido em
Ilhéus, Bahia, começou escrevendo contos em jornais e participando de festivais de música com letrista.
Ainda na região cacaueira fundou o movimento LIBERARTE. Organizou e participou junto com o grupo de Arte Macuco, a 1. Feira de Arte de Buerarema.
Ingressou na UFBa, em 1977, onde cursa Artes Plásticas. Durante esse período participou de exposições em Buerarema, Itabuna, Salvador e São Cristóvão (SE).
Ainda em 1977 ingressou no Teatro Livre da Bahia, onde já participou das montagens: Off-sina, Pombras da Bahia, Teatro de Rua, Teatro de Câmera, Oxente Gente, Cordel! e Gracias a la vida.
Tendo escrito textos para Off-Sina Pombas, Bahia e Teatro de Rua. Inédito em poesia.
CAVALCANTE JÚNIOR, José Araripe. Alegretos de Gaiola. Edições Macuco, JORNAL DO REINO, 1978.
Trata-se de uma grande folha com dobraduras.
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda.
A seguir, alguns dos poema:
ALEGRETO
Um carro pegou fogo
em plena rua,
um beijo se perdeu
no céu abandonado da minha boca...
E eu não sabia onde morava
o fantasma que me cabia.
Se alguém souber do paradeiro
de minha consciência, de minha família
e do meu demônio de guarda,
favor informar a rua dos Anjos,
lá será gratificado com um pouco
do meu tédio, receberá ainda um beijo, e
passagem de ida-e-volta a um sujo
beco qualquer desta alegre cidade.
PEQUENO POEMA DE AMOR
Te cuidar
com formol
Te cobrir
com lençol
Te talhar
com navalha
Te encher
de palha
Te brilhar
com verniz
Te deixar
como quis
Te homenagear
indigente
Te expor
morta e decente
Te querer
negra violeta
Te emoldurar
como borboleta
te amar para sempre...
BRINCADEIRA
Hoje
vou esquecer a paixão
do pronome possessivo.
Vou cortar o
meu, o teu,
o nosso umbigo.
Vou finalmente brincar
de liberdade contigo;
BRANCO PECADO
Retalhar o mármore da estátua e retirar de teu corpo branco o
o grito dos teus presos.
Viva a boca torta da estátua que deixa correr meia palavra e
uma gota de chuva.
Viva a mulher que virou pecado e virou estátua no meio da
praça.
Viva o mármore do olho da boca da face da farsa da estátua.
Viva a carterpilar e o decreto do prefeito retirar a branca mulher
sem vida da vida.
Retalhar o mármore da estátua despir a mulher e seus pecados.
(mesmo assim viva o pecado da mulher sem cor)
Decepar membro por membro não poupar olho nem sorriso.
Viva o tombo a queda da estátua da praça da estátua.
Viva o prefeito a carterpilar o decreto o parágrafo o despacho
a lâmina.
Viva o pecado do prefeito que matou o pecado da mulher branca
dos pecados.
Viva o depósito da prefeitura que cabe a máquina o paletó do
prefeito cabe os pedaços os braços de corpo os seios e dos
pecados os lábios da mulher o coração de mármore.
Viva a fuga dos presos.
Viva o depósito o prefeito o decreto os pecados os escultores
que violam o mármore e criam os pecados.
UIQUIENDI
A roupa de domingo do poeta,
amanheceu com cor de sábado
e forte cheiro de naftalina.
O seu primeiro verso, uma mistura
de mau humor e mau hálito,
uma rima pobre e com sono,
sete sílabas e um palavrão no lugar
do bom dia.
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